“EU” INDIVIDUAL, COMO CAUSADOR DO SEU DESTINO

 

(O Senhor): “Analisando a vida humana mesmo no seu aspecto favorável, nota-se facilmente que nada é dado de graça ao homem. Desde o rei até ao mendigo, cada um tem de enfrentar lutas que em absoluto não são agradáveis. Quando criança, é ele castigado com fraquezas; quando adulto, com preocupações, e como ancião com ambas as coisas, – e a hora derradeira por ninguém é considerada agradável.

Deste modo, a vida terrena rasteja entre cardos e abrolhos, e quem não os aprecia, nada de bom terá de contar ao aproximar-se o fim; quanto mais egoísta, tanto mais ofensas tem de registar. Quem, no entanto, desprovido de amor-próprio não se afligiu com os contratempos, tão pouco ligou aos espinhos que lhe feriam a sua personalidade; quem não se deixou abalar por variados sofrimentos físicos, pobreza, fome e sede, frio, roupas desapropriadas e inadequadas habitações, – poderá no fim da vida relatar as subtilezas agradáveis por que passou, enquanto até mesmo um rei, com todo o incenso espargido, no término da sua carreira só se queixará da sua desdita.

Onde estaria o regente que tivesse executado todos os projectos que idealizou no início da sua gestão? Sendo isto impossível, e no final descobrindo graves erros cometidos, torna-se infeliz, tanto que é facto conhecido, os reis morrerem geralmente em consequência de um desgosto íntimo.

Assim sendo, o homem determina a sua própria evolução, na plena consciência do “eu”, que lhe assiste durante a sua vida de provações. Se o fez dentro da Minha Ordem, não levaremos em conta; pois de qualquer maneira, a vida terrena lhe proporcionou mais amarguras que alegrias. Por este motivo, os grandes sábios pagãos a ninguém queriam declarar por feliz, somente consideravam bem-aventurados os que jaziam nos sepulcros.

Qual seria então o lucro de uma alma por todos os sofrimentos passados, se ao deixar o seu corpo, perdesse a consciência do seu “eu” indestrutível, ou se este fosse disperso em milhares de outras entidades? Algum de vós poderia estar satisfeito com tal ordem? Certamente que não. Penso, ser melhor deixar as coisas dentro da antiga organização e evitar, antes de mais nada, a menor interferência na individualidade por mais perversa que seja.

Sabeis perfeitamente ser apenas possível o “eu”, tornar-se feliz por completo quando, pela própria determinação, se tiver integrado na Minha Ordem. Por isso vos doutrinei quase sete dias e vos reconduzi à base primitiva das Criações espirituais e naturais. De modo idêntico vos demonstrei, por palavras e exemplos vivos, não ser possível uma alma alcançar a felicidade, enquanto não resolver submeter-se à Minha Ordem. Como, pois, poderá existir dentro de Mim o mais leve vestígio de inclemência, dureza e injustiça? Talvez pretendas denominar de dureza o que se torna necessário para a vida individual? Isto somente será admissível caso a Minha Paciência e Indulgência fossem apenas um grau menos poderosas!”

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(O Grande Evangelho de João – IV – cap.244)  ​